Thursday, December 29, 2005

Só no Reveillon !


Meu tio Fernando tinha um inimigo muito querido. O coroa morava ao lado de casa. Tinha hàbitos que titio admirava tanto, que queria se mudar dali em breve .
O nome do coroinha era Ayala. Português, sentimental, temperamental, gostava de testar o mais alto volume de seu toca-discos e assim, a paciência dos vizinhos. A trilha sonora da loucura era Carlos Gardel, alguns fados e Nat King cole.


Tudo isso servindo de Karaokê pra potente voz de Ayala, talvez ouvida até de tràs dos montes.
O contra ataque do tio Fernando também era de se respeitar: Quatro filhos adolescentes!!! Mas até ai tudo bem, o limite do outro era o término do um.
A declaração de guerra veio em 5 de julho de 1982, quando Ayala bebeu um pouco demais em comemoração da derrota do Brasil pra Itàlia na copa, e lançou um poster do Paolo Rossi na janela. Aquela afronta pegou meu tio no contra pé. Tio Fernando estava se martiriizando pela queda do vôo canarinho. Ele defendia com vontade a titularidade de Toninho Cereso. Pra ele, ver a foto de Rossi na manhã seguinte à decepção, foi o estopim. Pararam de se falar pra sempre. Cortaram relações.
Um adesivo foi grudado na janela, por um de meus primos: BRASIL para brasileiros!!!
Depois disso foram longos dois anos sem que um sequer pronunciasse o nome do outro.
Veio o Reveillon de 84 pra 85 e Paulo henrique, Juiz, Vizinho também, intercedeu na historia meio que sem querer. Ganhou uma caixa do melhor Champagne Francês. Convidou em separado os desafetos. Beberam em horarios diferentes mas o porre durou a noite. Veio o novo ano, foi-se o champgne todo.
Minha tia Nenha, conta que la pelas tantas eles começaram as mea culpa, sem se olharem. Um dizia que o outro não era tão mal assim... que Brasil e Portugal eram irmãos... 2 da manhã meu tio arranca o adesivo da janela. 2 e meia Ayala quebra o disco de Carlos gardel. As 3 horas os dois resolveram surpreender a vizinhança e se abraçaram.
Não foi um abraço comum e sim um mergulho em dupla na piscina Tony das crianças da vila.
Os dois vermelhos de birita. Meu tio cantava "Por una cabeça" e Ayala colocou o disco do lateral esquerdo Junior bem Alto!!! "Voa canarinho, voa...", cantava o portuga.
Era incrivel a mudança espiritual que o Champgne trouxe pra redondeza. Os partidarios de cada lado da vizinhança não sabiam o que fazer. Tinha acabado ali aquela pinimba? Da vida de quem iriam falar? Seria os primeiros sinais do fim da guerra fria?
O ano bom não poderia decepcionar essa gente. Logo de manhã, eu lembro dessa, meu tio acordou cuspindo pela janela e gritando mais alto que o som do Ayala:
-Idiota, abaixa esse som! Bradou!
-Compra uma vitrola mais potente e ai podemos conversar, imbecil! Respondeu o coroinha.
Ninguém entendeu nada. Seriam eles os mesmos do ano passado?
Nenha, que chegava das Sendas e viu tudo da rua, resolveu interferir la de baixo mesmo:
Ué, vocês não eram ontem os melhores amigos? Perguntou.
- Só no Reveillon! Gritaram juntos, cada um de sua janela.

No comments: