Monday, December 26, 2005

Fala, Bom dia!

Na rua Juparanã eu me criei.
O bairro nem o correio, sabia direito. Aliàs, o correio sabia como andarai, mas ligth mandava pra Vila Isabel e a conta não deixava de chegar. A falecida Telerj cobrava da Tijuca e era la de casa o telefone.
Na rua Juparanã tinha regulamento.
Os mais velhos distribuiam cascudos, depois das 22 sò quem era do bonde e soubesse calar.
Fazer merda era aventura.
Na vila morava Seu Lustosa.
Aposentado não sei de que, veio cedo do norte, de Manaus eu acho.
Era brabo! Reclamava do barulho das crianças, do preço do pão, do cocô do cachorro da esquina e do Brizola...
Ele odiava o Brizola. Era torcedor da Arena. Digo torcedor porque ninguém em sã consciencia podia crer de fato no projeto de Brasil da Arena, na época da ditadura. Mas ele acreditava. E era brabo.
Na rua Juparanã os gatos e gatas em seus gemidos, suas còpulas, de madrugada acordavam a curiosidade de nòs muleques, por sua insintência em tanto sofrimento. Toda noite aquela gritaria.
Aquelas festinhas embaixo de carros, nas varandinhas das casas, no paredão da vila, no portão da dona Norma, não podiam mesmo terminar em final feliz pros gatos.
E foi dona Irene, que alimentava os exaustos felinos todas as manhãs, na surdina, percorrendo todas as rodinhas de fofocas das senhoras da rua, quem avisou, certo desaparecimento dos nossos farristas noturnos.
Estavam envenenando os gatos.

Meu avô, era terrivel!!!
Na rua sò falava bom dia aos vizinhos. Discreto, era respeitado apesar dos aprontes do neto, eu, menino testando os limites. Sabiam que era médico e ponto. E Brizolista.
O assassino dos gatos fazia sobrar cada vez mais as marmitas que dona Irene espalhava pelas calçadas antes que dona Vilma as limpasse com sua vassoura d`àgua.
Os plantões noturnos das inçaciaveis gatinhas tinham diminuido. O algoz era desconhecido de todos. Mas a historia dos crimes ja tinha chegado no tijolinho, condominio de prédios a três quadras dali. Pensavam inclusive que o matador de gatos vinha de nossos muleques rivais de là.
Mas meu avô era terrivel!!!
Um dia fui com ele no Boulevard (na época o supermercado Disco, depois, Paes Mendonça, mais tarde, Carrefour, Extra, hoje nem sei mais), pra ver se extorquia algum sonho de creme ou barra de chocolate do velhinho. Na fila de idosos nos encontramos com seu Lustosa, que era brabo. Meu avô sem perder o estilo lhe cumprimentou com o classico, bom dia.
Seu Lustosa disse que essa historia de gatos era um problema, porque ele era amigo do seu Aurélio, marido de dona Irene e ela ja estava fazendo fofocas, espalhando boatos pela vizinhança. Mas que os gatos não deixavam ninguém dormir... que pior que os gatos sò o Brizola!
Meu avô sorriu e disse, bom dia!
Fomos pra casa e na volta encontramos dona Irene de campana atràs do portão.
Ao passar, meu vô disse a ela:
- Bom dia, eles sempre foram e serão sempre assim... nunca mostram a cara.
- Quem? Saiu dona Irene da varanda.
- Os ratos da Arena, que atacam os gatos famintos, hehe! Riu, sarcàstico.
- Ah tah, bom dia pro senhor também, doutor! captou a mensagem, Irene.
Ao voltar do mercado, seu Lustosa ouviu os gritos da mulher de seu amigo Aurélio, Irene.
A noite seu Lustosa ouviu os gritos das gatas no cio em sua varanda. E de manhã, ouviu o "bom dia" de todos os dias do meu avô... passando batido.
Na rua Juparanã aprendi a falar "bom dia", independente do dia ser bom ou não!!!

No comments: