Friday, December 30, 2005

Certezas e vontades



Eu não tenho certeza
mas tenho vontades
e elas me levam a voce no banho

eu nao tenho certeza, eu nao tenho tamanho
nao tenho idade e minha ideologia se perde nos meandros de sua pele
eu tenho medos e nada me fere

pois pra tudo existe o riso
existe o verde
a vela e o rosa
do seu canto no chuveiro, eu penso o sol

e todas as notas que depois me darão
isso com toda certeza
uma nova canção
agora vãobora que a comida esta na mesa

amor, meu bem, carinho, seja perto de voce
sozinho

do seu lado, quente nos meus braços
sonhos e poesias

Thursday, December 29, 2005

Pra que?



Pra que ?

Pra que cantar, se tem que ser do jeito que a T V quer…senão não tem nem pra comer ?
pra que compôr, se não se pode dizer o que vem a cabeça ?
Pra que gritar, se você tem que se adeqüar ao que ésenão ninguém vai te ouvir ?
Pra que sentir, se vc quer controlar o que diz a cabeça ?

Deixa pra la o coração, veste o uniforme da razão e vai
terno e gravata no verão, seja um perfeito cidadão, rapaz

A minha poesia preocupada com a realidade, jaNão se sustenta maisA minha poesia sem a tecnologia necessaria pra fazer futuro…
senão não tem nem pra comer...
senão ninguém vai te ouvir

Só no Reveillon !


Meu tio Fernando tinha um inimigo muito querido. O coroa morava ao lado de casa. Tinha hàbitos que titio admirava tanto, que queria se mudar dali em breve .
O nome do coroinha era Ayala. Português, sentimental, temperamental, gostava de testar o mais alto volume de seu toca-discos e assim, a paciência dos vizinhos. A trilha sonora da loucura era Carlos Gardel, alguns fados e Nat King cole.


Tudo isso servindo de Karaokê pra potente voz de Ayala, talvez ouvida até de tràs dos montes.
O contra ataque do tio Fernando também era de se respeitar: Quatro filhos adolescentes!!! Mas até ai tudo bem, o limite do outro era o término do um.
A declaração de guerra veio em 5 de julho de 1982, quando Ayala bebeu um pouco demais em comemoração da derrota do Brasil pra Itàlia na copa, e lançou um poster do Paolo Rossi na janela. Aquela afronta pegou meu tio no contra pé. Tio Fernando estava se martiriizando pela queda do vôo canarinho. Ele defendia com vontade a titularidade de Toninho Cereso. Pra ele, ver a foto de Rossi na manhã seguinte à decepção, foi o estopim. Pararam de se falar pra sempre. Cortaram relações.
Um adesivo foi grudado na janela, por um de meus primos: BRASIL para brasileiros!!!
Depois disso foram longos dois anos sem que um sequer pronunciasse o nome do outro.
Veio o Reveillon de 84 pra 85 e Paulo henrique, Juiz, Vizinho também, intercedeu na historia meio que sem querer. Ganhou uma caixa do melhor Champagne Francês. Convidou em separado os desafetos. Beberam em horarios diferentes mas o porre durou a noite. Veio o novo ano, foi-se o champgne todo.
Minha tia Nenha, conta que la pelas tantas eles começaram as mea culpa, sem se olharem. Um dizia que o outro não era tão mal assim... que Brasil e Portugal eram irmãos... 2 da manhã meu tio arranca o adesivo da janela. 2 e meia Ayala quebra o disco de Carlos gardel. As 3 horas os dois resolveram surpreender a vizinhança e se abraçaram.
Não foi um abraço comum e sim um mergulho em dupla na piscina Tony das crianças da vila.
Os dois vermelhos de birita. Meu tio cantava "Por una cabeça" e Ayala colocou o disco do lateral esquerdo Junior bem Alto!!! "Voa canarinho, voa...", cantava o portuga.
Era incrivel a mudança espiritual que o Champgne trouxe pra redondeza. Os partidarios de cada lado da vizinhança não sabiam o que fazer. Tinha acabado ali aquela pinimba? Da vida de quem iriam falar? Seria os primeiros sinais do fim da guerra fria?
O ano bom não poderia decepcionar essa gente. Logo de manhã, eu lembro dessa, meu tio acordou cuspindo pela janela e gritando mais alto que o som do Ayala:
-Idiota, abaixa esse som! Bradou!
-Compra uma vitrola mais potente e ai podemos conversar, imbecil! Respondeu o coroinha.
Ninguém entendeu nada. Seriam eles os mesmos do ano passado?
Nenha, que chegava das Sendas e viu tudo da rua, resolveu interferir la de baixo mesmo:
Ué, vocês não eram ontem os melhores amigos? Perguntou.
- Só no Reveillon! Gritaram juntos, cada um de sua janela.

Monday, December 26, 2005

Brizola gostou!!!

Nas eleições desarticuladas de 2002 o Rio de Janeiro arrebentou e elegeu, Sérgio Cabral Filho e Marcelo Crivela, Senadores.
O PT na véspera da eleição fazia uma festa bonita na orla, com o intuito de mudar o quadro das pesquisas e eleger pelo menos um senador de seus candidatos, Fernando Gusmão e Edson Santos.
A passeata contava com a presênça de ilustres de sempre como Carlos "midia" Minc e Lindberg Farias, na época candidatos a deputado. Sem falar nos artistas de teatro, circo e televisão. Parecia uma multidão de botafoguenses!!! Derrotados de véspera, mas felizes por opção de vida.
O carro de som estava desgovernado. Hora alguém gritava que era um absurdo a Rosinha ser eleita Governadora do estado. Hora alguém absurdamente pedia votos pra Benedita. Discursos dos politicos presentes não se ouviram. Quem ia se queimar ali?
E como eu ja estava queimado de casa, resolvi aprontar das minhas ao lado de meu parceiro zona norte Bernardo.Percebendo o desleixo das autoridades do carro de som, pedi a palavra:
- Amigos da passeata. Ja que percorreremos a orla de Copacabana, é bom lembrar: Vamos passar na frente da casa do homem!!! Afinal de contas, nessa passeata tem gente que vai votar... no BRIZOLA!!!!
Um espanto hipocrita tomou conta dos organizadores. O povo gritava a meu favor. Bernardo aumentou o abuso e bradou mais três vezes Brizola!!! Os petistas ja não eram botafoguenses, eramos todos americanos doentes, e Brizola era o artilheiro do campeonato.
O carro de som reassumiu o controle e me expulsou do palanque no calçadão. Com Bernardo nada fizeram, pois seu fisico de grande porte e sua barba séria o colocavam com direitos adquiridos.


Mas era impossivel não ver. A esquerda carioca tinha se imposto a situação da divisão, da mesquinhez e, consequentemente, da derrota. Estava claro que todos ali tinham uma opção entre os candidatos presentes e levavam BRIZOLA de forma sigilosa como primeira escolha para o senado.
A derrota cria solidariedade. Estavam tão amigos que o microfone da passeata se deixou ser arrancado pelo Bernardo da mão do MC da vez que, ingênuo, gritava 12345 mil, queremos que a Rosinha...
Eu resolvi dar meu tiro pro alto. Com a ajuda de meu segurança zona norte, evitando os revoltosos patrocinadores do evento, gritei:
- Quem vota no Gusmão?
Os PTfoguenses:
- Eu
-Quem vota no Edson Santos?Eu, irônico.
Os menos ainda:
- Eu
- Quem vota no BRIZOLA? O cara do som tenta me bater.
A maioria:
- EU!!!!
A passeata era nossa. A dor de cabeça que arrumamos com aquela confusão, também. Estavamos a ponto de sermos democraticamente expulsos da passeata rumo ao Senado.
Sinceramente, não podia desapontar quem sabia da historia. A passeata iria passar na frente do prédio de Leonel e o buxixo dizia que iriam vaià-lo.
O que fazer? Arrumaram um segurança maior que o Bê pro microfone. Me miravam como se eu fosse o ACM ou o Collor. So o Lindberg Farias era solidario conosco. Distribuia seu santinho e dizia que tinhamos a nossa razão.
A casa do Mestre estava chegando e eu não queria testemunhar, e participar, daquele mico. Meia duzia de festivos gritando que eram menos derrotados que o Brizola! A derrota era nossa!
A cerveja as vezes me faz mal, mas naquele dia ela me deu uma idéia genial. Fiz cara de arrependido, triste, redmido e consegui a atenção do carro de som. Dizia que tinha um problema e que ele tinha que me ajudar. Sem me dar o microfone.
Mas a teimosia me acompanha e eu convenci o poderoso MC PT a me emprestar a palavra para encontrar com minha namorada, perdida naquela multidão.
O descuido do puxador daquele bloco animalesco foi fatal.
Estavamos eu, o microfone, o carro de som e , agora sim, meu segurança Bernardo na frente do prédio do BRIZOLA. meia multidão pronta pra vaiar. EU procuro minha namorada:
- Lindinha, atenção, lindinha. Vem aqui pra perto do carro de som...
Pausa...
- Lindinha vem pro carro de som, pra gente votar no Brizola!!!! Gritos a meu favor.
- Gente a verdade é essa. Prossigo.
- Muitos de nos aqui vamos votar no Brizola amanhã!!! Brizola, Brizola Brizola!
Tentaram me arrancar do discurso mas nesse momento Itagiba apareceu na janela de seu prédio pra nos acenar. Bernardo entendeu o recado e entre socos e empurrões expulsou os democraticos patrocinadores do carro som. A multidão era nossa!!
Passei o microfone para Bernardo, merecidamente:
- Brizola, tentam nos separar mas você estarà sempre aqui conosco na luta!!! Arrepiou.
Nesse instante todos gritavam Brizola, que acenava vitorioso da janela!!! Lindberga aproveitou o climax e discursou pela união de diversas correntes irmãs, mas devolveu o microfone pro Bernardo.
- Brizola, tem que respeitar !!!! Tem que respeitar!!! Repetia o MC segurança.
Quando Leonel saiu da janela acabou a passeata.
No dia seguinte acabou o Rio de Janeiro formador de opinião e deu Rosinha Governadora, Crivella e Cabral Senadores. Naquela que seria a ultima candidatura de Leonel de moura Brizola.
Suas idéias não precisam ser canonizadas, e sim, entendidas. Pois permanecem atuais.
Eu vivi a aventura de ser um rebelde no metièr PTfoguense, derrotado cheio de razão.
Meu segurança, amigo, Bernardo viveu a gloria de depois de tudo chegar pro Lindberg e falar:
- Vai se eleger deputado, mas se fizer merda ja sabe...
Ah!!! E se abandonar o cargo antes do final do mandato pra se candidatar a prefeito também apanha.
- Que isso, companheiro! Dizia o futuro perfeito de Nova Iguaçu.
Tudo isso democraticamente...





Fala, Bom dia!

Na rua Juparanã eu me criei.
O bairro nem o correio, sabia direito. Aliàs, o correio sabia como andarai, mas ligth mandava pra Vila Isabel e a conta não deixava de chegar. A falecida Telerj cobrava da Tijuca e era la de casa o telefone.
Na rua Juparanã tinha regulamento.
Os mais velhos distribuiam cascudos, depois das 22 sò quem era do bonde e soubesse calar.
Fazer merda era aventura.
Na vila morava Seu Lustosa.
Aposentado não sei de que, veio cedo do norte, de Manaus eu acho.
Era brabo! Reclamava do barulho das crianças, do preço do pão, do cocô do cachorro da esquina e do Brizola...
Ele odiava o Brizola. Era torcedor da Arena. Digo torcedor porque ninguém em sã consciencia podia crer de fato no projeto de Brasil da Arena, na época da ditadura. Mas ele acreditava. E era brabo.
Na rua Juparanã os gatos e gatas em seus gemidos, suas còpulas, de madrugada acordavam a curiosidade de nòs muleques, por sua insintência em tanto sofrimento. Toda noite aquela gritaria.
Aquelas festinhas embaixo de carros, nas varandinhas das casas, no paredão da vila, no portão da dona Norma, não podiam mesmo terminar em final feliz pros gatos.
E foi dona Irene, que alimentava os exaustos felinos todas as manhãs, na surdina, percorrendo todas as rodinhas de fofocas das senhoras da rua, quem avisou, certo desaparecimento dos nossos farristas noturnos.
Estavam envenenando os gatos.

Meu avô, era terrivel!!!
Na rua sò falava bom dia aos vizinhos. Discreto, era respeitado apesar dos aprontes do neto, eu, menino testando os limites. Sabiam que era médico e ponto. E Brizolista.
O assassino dos gatos fazia sobrar cada vez mais as marmitas que dona Irene espalhava pelas calçadas antes que dona Vilma as limpasse com sua vassoura d`àgua.
Os plantões noturnos das inçaciaveis gatinhas tinham diminuido. O algoz era desconhecido de todos. Mas a historia dos crimes ja tinha chegado no tijolinho, condominio de prédios a três quadras dali. Pensavam inclusive que o matador de gatos vinha de nossos muleques rivais de là.
Mas meu avô era terrivel!!!
Um dia fui com ele no Boulevard (na época o supermercado Disco, depois, Paes Mendonça, mais tarde, Carrefour, Extra, hoje nem sei mais), pra ver se extorquia algum sonho de creme ou barra de chocolate do velhinho. Na fila de idosos nos encontramos com seu Lustosa, que era brabo. Meu avô sem perder o estilo lhe cumprimentou com o classico, bom dia.
Seu Lustosa disse que essa historia de gatos era um problema, porque ele era amigo do seu Aurélio, marido de dona Irene e ela ja estava fazendo fofocas, espalhando boatos pela vizinhança. Mas que os gatos não deixavam ninguém dormir... que pior que os gatos sò o Brizola!
Meu avô sorriu e disse, bom dia!
Fomos pra casa e na volta encontramos dona Irene de campana atràs do portão.
Ao passar, meu vô disse a ela:
- Bom dia, eles sempre foram e serão sempre assim... nunca mostram a cara.
- Quem? Saiu dona Irene da varanda.
- Os ratos da Arena, que atacam os gatos famintos, hehe! Riu, sarcàstico.
- Ah tah, bom dia pro senhor também, doutor! captou a mensagem, Irene.
Ao voltar do mercado, seu Lustosa ouviu os gritos da mulher de seu amigo Aurélio, Irene.
A noite seu Lustosa ouviu os gritos das gatas no cio em sua varanda. E de manhã, ouviu o "bom dia" de todos os dias do meu avô... passando batido.
Na rua Juparanã aprendi a falar "bom dia", independente do dia ser bom ou não!!!

Juba fala...

Amigos,
resolvi falar também!!!
Se publicar é facil assim, o Juba vai tentar...
Vou lançar aqui meia duzia de historias da minha cabeça, recheio de meus cabelos, poemas de amigos, fofocas do ônibus lotado, diàrio de bordo, trecho de livros...
Tudo legalizado, citado, com bibliografia, assinatura do compositor e tudo.
Vou contando a vida pra que ela não conte por mim...

Quem quiser que me siga, ou se adiante !!!
Eu sou mais um divagador do dialeto Rio.
Sinistro, responsa, o mais bobo, otario com sorte,
chegando devegar, esse bagulho, de humilde, sem neurose, é essa parada !!!

"Eu que sou filho de um Barroso teimoso descobri maravilhado que sou mentiroso. Sou feio, desidratrado e infiel, bolinha de papel e nunca vou ser réu dormindo. Eu descobri como um velho bandido que nem tudo esta perdido nesse céu de zinco.

Eu que sò tenho essa cabeça grande, penso pouco falo muito e sigo pra diante. Ja descobri que a velha arca ja furou, quem não desembarcou dançou na transação dormindo.

E como eu fui um tal velho bandido vou ficar matando rato pra comer, dançando rock pra viver, fazendo samba pra vender... sorrindo." (Sérgio Sampaio)